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8/4/10

Ladrões

O Marmota abre uma exceção e resolve postar um posto gigantesco. Não, trechos do posto gigantesco. Trata-se de um artigo do Marcio Pochmann, atual presidente do IPEA, publicado no Jornal do Brasil em 22/05/2004. É uma boa análise da absurda política econômica do governo federal, que, aliada à uma carga tributária extremamente regressiva, só faz concentrar mais renda na mão de poucos...
Seguem trechos do artigo:

"Os últimos 25 anos produziram uma nova situação de polarização social no Brasil. Embalada pela situação de estagnação econômica, a classe média não proprietária terminou fortemente afetada pela ampliação do desemprego e pelo rebaixamento da renda do trabalho.

Ao longo da década de 1990, por exemplo, o desemprego cresceu de forma mais intensa justamente para os segmentos sociais de maior escolaridade e com maior nível de rendimento. Hoje, praticamente, não há mais estrato social imune ao desemprego no Brasil.

Da mesma forma, as profundas transformações no mercado de trabalho bateram direta e indiretamente nas ocupações de rendimento de nível médio. A privatização e a terceirização das atividades no setor público, bem como a adoção de novas formas de gestão do trabalho nas médias e grande empresas privadas (re-engenharia, downsize, gestão participativa), geraram maior escassez de postos de trabalho de classe média.

Tanto assim que, atualmente, a maior quantidade de vagas abertas de nível universitário no Brasil tem sido justamente na administração pública. O setor privado tem demitido, mais do que contratado, profissionais com ensino superior. É possível observar, em várias capitais de Estados, mais desempregados com o curso superior completo do que analfabetos.

Em síntese, há um nítido esvaziamento, relativo e absoluto, da classe média no país. E tudo isso tem sido acompanhado da ampliação dos lados opostos da pirâmide social.

Assim, a base dessa mesma pirâmide ampliou-se ainda mais. Em 2002, por exemplo, havia, para cada 10 ocupados, oito com remuneração mensal de até três salários mínimos.

Da mesma forma, a cúpula da pirâmide social assumiu maior proporção. No ano de 2000, havia 1,1 milhão de famílias ricas em todo o país (2,4% do total de 51 milhões de famílias brasileiras), enquanto em 1980 eram menos de 600 mil famílias (1,6% das famílias), segundo o Atlas da Exclusão Social - Os ricos no Brasil, Cortez, 2004.

Ademais do enxugamento nos segmentos intermediários de renda na estrutura social brasileira, verificou-se que a aplicação da agenda neoliberal teve por resultado o esvaziamento de recursos públicos alocados nas políticas sociais tradicionais, como saúde, educação e previdência e assistência social. Todas elas passaram a afetar menos os segmentos mais organizados e de classe média em virtude da desvinculação do orçamento da seguridade social e racionalização dos gastos sociais.

Em nome da responsabilidade fiscal, foram implementados dois novos sistemas de garantia de renda mínima no país. De um lado, as taxas de juros básicas estabelecem o nível de garantia mínimo de renda a 15 mil famílias que vivem da aplicação de suas riquezas no circuito da financeirização. Desde o final da década de 1990 que o Brasil vem transferindo anualmente algo em torno de 10% de todo o Produto Interno Bruto na forma de uma renda mínima aos ricos.

De outro lado, ganhou maior dimensão desde 2001 a difusão de programas de complementação de renda mínima para segmentos miseráveis da população. A cada ano, cerca de 0,5% do PIB nacional tem sido transferido a quase 10 milhões de famílias que vivem em condições de extrema pobreza."

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