"Eu sou testemunha ocular da história, né. De certa maneira, né.
Porque em 1970, em 1971, o Zico com 17, 18 anos, jogando nos juniores do Flamengo, os juniores na época faziam a preliminar do jogo principal. Então eu cansei de ir ao Maracanã ver os jogos do Flamengo, e chegar mais cedo pra pegar a preliminar dos juniores pra ver o Zico jogar.
Era uma certeza, sabe, de felicidade. De uma hora e meia de grandes vibrações, de grandes emoções. Era uma promessa de beleza, de jogadas. (...)
O Zico poderia ter tido uma carreira ainda mais brilhante do que ele teve se não fosse a caretice e a quadradice dos treinadores que ele teve em certa época. O Zico, por exemplo, era pra ter disputado uma Olimpíada. O Zico era pra ter ido já pra Copa de 74. O Zagallo, que já o conhecia do Flamengo em 72, podia ter levado o Zico entendeu? Não levou de pirraça certamente, ou sei lá porque, entendeu? (...)
É evidente que faltou ser campeão do mundo, né. Infelizmente nós vivemos nessa ditadura burra, né, de ser campeão do mundo. Quando você imagina que o Zizinho não foi campeão do mundo, que o Ademir Menezes não foi, que o Jair da Rosa Pinto também não foi, o Puskas não foi, o Di Stefano não foi, sabe? Grandes jogadores, né, talvez os maiores jogadores do mundo, tirando o Pelé e o Garrincha, e mais um ou dois, não foram campeões do mundo. Mas não sei se ele pensa assim também, se ele sente essa falta, né. Ele, o Júnior, o Falcão e outros. Pra mim não faltou nada, entendeu? Toda a vez que o Zico entrou em campo com a camisa do Flamengo, com a camisa do Brasil, o futebol ali tava na sua plenitude, e não precisava de mais nada. (...)
Zico, parabéns! Olha... é... você foi o responsável pelos 20 anos mais felizes da minha vida, como rubro-negro. Foram os anos que você jogou, né. É isso aí. Mas o principal é que o povo brasileiro, o povo que é Flamengo, agora tem essa oportunidade de agradecer um pouco ao Zico por tudo que o Zico nos deu. Então, cada qual na sua cidade, sair as ruas no dia 3 de março com a camisa do Flamengo."
(Ruy Castro)
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