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4/2/16

Guerra de posição

"Você perguntava sobre a relação entre o discurso polarizador ou de ruptura e a gestão. Eu diria que se está num momento do confronto diferente. Algumas coisas foram ganhas, e o adversário teve de ceder, mas o adversário também ganha algumas coisas. Você já não é um monstro apavorante. Já está lá dentro e precisa ser reconhecido como um ator legítimo. Você fica um pouco mais forte, constrói, respira, está num território um pouco mais coberto, tem recursos, pessoal, possibilidade de as coisas serem feitas de outra forma.

Mas também é verdade que perde a característica de outsider, deixa de ser uma multidão de indignados que vem para atacar ou transformar. Passa a ser uma figura mais ordeira. Por isso, nos Estados modernos, a guerra é de posições. Você ataca um pouquinho, sai correndo, ataca um pouquinho. Mas, a partir do momento em que ataca um pouquinho, entra um pouco em algumas redes institucionais, em outras não entra nada, em outras muito, e, estando ali, você é um pouco
mais respeitável e um pouco menos insolente, outsider e subversivo.

Precisa continuar lutando para ter sempre a iniciativa, colocar a bola sempre no campo do adversário e levar o adversário para lugares onde não esteja à vontade. Mas fazemos isso num âmbito como o institucional do qual eles sabem mais. Têm mais quadros, têm mais saberes, e as inércias atuam a favor deles. Em geral, o tipo de tarefa que nos forjou como militantes não tem nada a ver com o tipo de tarefa que temos agora. E é preciso aprender enquanto se está tentando construir o viveiro que vá produzindo os quadros para a leva seguinte. Porque, se todos os quadros se desgastarem nas primeiras posições conquistadas — e vimos isso nos processos latino-americanos —, muitas tarefas ficarão sem realização, ficarão desguarnecidas, entre estas a própria possibilidade de reprodução
do instrumento político. O instrumento precisa continuar sendo vigoroso, e por isso algumas pessoas têm de ficar para fazer esse trabalho. Você não pode pôr todos os seus quadros, ou só os melhores quadros, nas posições institucionais conquistadas."

Íñigo Errejón em entrevista publicada na revista Novos Estudos (número 103).

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