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10/9/12

Política é política

(CORREIO DO POVO) Os liberais afirmam que colocar valores em uma discussão política sempre aumenta o risco de uma “tirania da maioria” sobre as minorias. O senhor concorda?

(MICHAEL SANDEL) Sim, eu concordo que colocar valores na discussão política sempre envolve o risco de criar a tirania da maioria, e nunca existe nenhuma garantia de que a maioria esteja certa. Ela pode impor valores à minoria que são injustificados. Esse é um risco de qualquer política que inclua valores. A questão é: qual é a alternativa? Alguns dirão que a alternativa é tentar deixar questões controversas que digam respeito a valores, considerações morais e espirituais de fora da discussão pública. E eu tenho sido crítico em relação a essa visão sobre a política. Eu entendo o impulso de deixar essas questões de fora do discurso público, mas acredito que isso é um erro. E a razão pela qual eu acho que isso é um erro é que eu não acredito que seja possível ou desejável definir direitos fundamentais dos cidadãos e decidir questões políticas importantes de uma maneira que seja neutra em relação a valores. Existe um segundo motivo para considerar essa visão errada. O primeiro motivo é filosófico. O segundo é uma questão de interpretação política. Eu acredito que a tentativa de pedir aos cidadãos que deixem de fora da política convicções morais e espirituais levou a uma política vazia. Leva ou a uma política tecnocrática que não inspira ninguém ou cria um vácuo moral, um vazio, que tende a ser preenchido por pessoas intolerantes, por pessoas que impõem visões morais estreitas a todos os outros. Porque mais cedo ou mais tarde as pessoas querem que a vida pública e a política tenham significado mais amplo. E se você tenta esvaziar a política de significado moral o resultado não será um ponto de vista neutro. Será um vácuo moral que será preenchido por vozes intolerantes e fundamentalistas. E há um terceiro motivo, que está ligado ao novo livro. O que acontece quando você esvazia a política de sentido moral é que você deixa que as forças de mercado decidam a maior parte das questões de nossa sociedade. E as forças do mercado governam. Isso não é neutralidade. É simplesmente dar poder às forças de mercado para tomar decisões muitas vezes lamentáveis, já que os cidadãos não são mais capazes de participar de um debate com maior significado. Por isso eu acredito que uma das razões para que nossas sociedades tenham sido dominadas pelo pensamento de mercado e pelos valores de mercado é que nós não tivemos um debate público moral.

Leia aqui a entrevista na íntegra.

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